por Maitê Casacchi
“Hoje a gente não pensa mais sobre a ocupação do espaço público. A gente ocupa.” A resposta da Cristiane Gomes, coordenadora de dança do bloco afro Ilu Obá de Min, me esclarece que não dá pra separar o Ilu da rua. Este é o sexto Carnaval que o grupo de mulheres percussionistas e dançarinas sai em cortejo pelo centro de São Paulo – este ano são 115 mulheres, 32 na dança. Mas é como se a apresentação pública (no real sentido da palavra) tivesse início meses antes, em novembro, quando começam as oficinas/ensaios embaixo do Viaduto do Chá (aos sábados das 16h às 19h) e na Praça do Patriarca (aos domingos das 15h às 18h).
“A gente invade a casa de várias pessoas assim; tem histórias impressionantes de moradores de rua que estão por ali”, como a que Cristiane conta sobre o Rogério, que hoje faz uma espécie de contra-regragem e “anjo-guardagem” pros ensaios do Ilu, dando uma força com os equipamentos de som e se aproximando com papo e jeitinho de quem tenta um approach desajeitado com as meninas. Rogério morava na rua e acabou virando, “forçosamente”, público do Ilu. Até se voluntariar completamente a ajudar o bloco.
A matriz afro-brasileira do grupo desperta um outro tanto de interações, como a que vi num domingo de ensaio escondida do sol sob a marquise do Patriarca. Na plateia como eu, um (ao que parecia) morador de rua – negro, bêbado e às lágrimas (mesmo!) – não cansava de me dizer: “Tenho vontade de beijar os pés deste dançarino (homens são admitidos para dançar, mas não na bateria); nem ele sabe o que ele está fazendo pelo meu sangue”.
Em 2011, o tema do bloco são as candances, as grandes rainhas da África antiga. As roupas e as canções compostas pelo bloco se referem à beleza e ao poder das mulheres africanas (as demais músicas do cortejo são pontos tradicionalmente tocados aos orixás). Na sexta de Carnaval, dia 4 de março, as meninas começam a se concentrar às 19h na rua Major Quedinho, e o cortejo sai às 21h rumo ao Largo do Paissandu.
Mas até chegar o dia, tem tambor: os ensaios regulares de fim de semana continuam dias 19, 26 e 27 de fevereiro. Domingo (20/02, a partir das 14h) o QG do grupo, na Barra Funda (rua Eduardo Prado com a rua Guaianazes), sedia a festa que “dá por inaugurado” o Carnaval – mas, como não podia deixar de ser, a festa acontece mesmo é na rua, pro público que aparecer por lá.
fonte: Uia Diário
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